terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Comida na Uerj? Muito Cuidado!

por André Coelho, Marcos Paulo, Adair Aguiar e Vinícius Miranda

O campus Maracanã da Universidade do Estado do Rio de Janeiro é o maior ponto de concentração de estudantes do estado; são quase 15 mil alunos freqüentando diariamente este gigantesco prédio de 12 andares. Para os que passam várias horas na Universidade trocar uma refeição de qualidade por uma alternativa mais rápida e barata, nos famosos “podrões” e “gordurosos” da Uerj, é quase uma regra. No entanto, tal prática pode ser perigosa para a saúde dos estudantes, tanto pela falta de qualidade da alimentação quanto pelas precárias condições de higiene das cantinas.

O grande movimento nas diversas cantinas da Uerj mostra que, de fato, os estudantes sentem fome quando estão na universidade. “Na maioria dos dias eu chego às 14h e só saio às 22h; às vezes não dá tempo nem de almoçar em casa e tenho que fazer duas refeições. Geralmente como um hambúrguer, algo preparado na hora, ou só um salgado quando a grana está mais curta” – conta João Gabriel Torgano, estudante de Engenharia.

O ideal, segundo especialistas, é uma alimentação mais diversificada, rica em nutrientes, como um bom prato de comida, por exemplo. O problema é que a falta de tempo e dinheiro praticamente obriga os estudantes a correr para comer um salgado quando a fome aperta. Para Márcia Madeira, professora do instituto de nutrição da UERJ, é preciso ter uma alimentação saudável dentro e fora de casa, sem exagerar nos salgados, hambúrgueres e outros, além de evitar trocar uma refeição completa por algum destes “lanchinhos”. “Outro problema é o tempo que a pessoa demora para comer; estudos mostram que fora de casa as pessoas levam, em média, de três a dez minutos para comer, o que pode causar sérios problemas no aparelho digestivo como gastrite e úlcera” - explica.

A falta de higiene dos estabelecimentos também é um fator preocupante. E não é preciso ser um fiscal para constatar o problema, como conta a estudante Flavia Martins: “eu já cansei de ver baratinhas andando pelas cantinas da Uerj. Como não tem opção, o jeito é fingir que não viu e comer o salgado assim mesmo.” Uma pesquisa realizada recentemente encontrou condições inadequadas de higiene em praticamente todos os estabelecimentos da Uerj; algumas situações absurdas como carnes sendo descongeladas em baldes no chão e ausência de itens básicos de higiene como pias para os funcionários lavarem as mãos (acesse http://www.agenc.uerj.br/ e veja a matéria de Alexandra Barbosa sobre a pesquisa).

Márcia Madeira alerta para o perigo da contaminação dos alimentos: “Muitas vezes esses locais não possuem condições apropriadas de estocagem e preparo da comida, tornando grande a probabilidade de contaminação microbiológica, o que pode causar problemas como diarréias, desidratação, dores de barriga, entre outros”. Segundo a professora, as altas temperaturas e a umidade do verão são potencializadoras do risco de contaminação e desenvolvimento de bactérias e outros organismos nos alimentos mal estocados.

Esse problema poderia ser consideravelmente reduzido se a Uerj possuísse o que a maioria das universidades públicas do País têm: o Restaurante Universitário, com refeições de qualidade por um baixo custo. No projeto original do prédio da Uerj está prevista uma área para a construção do chamado “Bandejão”, mas até hoje ele não saiu do papel. No ano de 2008 foi liberada pelo governo uma verba exclusiva para a construção do bandejão, que ainda não foi utilizada. Em setembro do ano passado os estudantes ocuparam a reitoria e saíram de lá com a garantia de que teriam o restaurante já no ano de 2009.

“O Restaurante Universitário é uma estrutura de assistência estudantil indispensável na maioria das universidades públicas do país. Na Uerj, que é uma das universidades com o perfil mais popular, os ainda não temos o Bandejão, o que é um absurdo.” – protesta Rafael Tristão, do Diretório Central dos Estudantes da Uerj. “Com a ocupação da reitoria o processo andou, agora só falta a ultima parte, que vai escolher a empresa que vai fazer a obra. Nós temos uma reunião marcada com a Administração Central para o dia 11 de fevereiro onde vamos discutir as questões finais, como o preço das refeições”- conta Rafael.

A parte final da licitação está marcada para o dia 16 de fevereiro, quando será escolhida a empresa que vai gerir o espaço. Segundo a Administração Central, a tendência é que a refeição seja gratuita para os alunos cotistas, e custe 2 reais aos demais estudantes, as obras devem demorar cerca de seis meses. Ao que parece, finalmente os alunos da Uerj terão uma opção saudável e barata na hora que a fome apertar.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Unindo prática à teoria

por Guilherme de Alencar e Janine Mainel


Os alunos que ingressam na Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro não imaginam o que algumas salas de seus corredores lhes reservam.
A excelência acadêmica já é conhecida, no entanto, os laboratórios da FCS são gratas surpresas para os que optaram pela qualidade do ensino público universitário, mas com temor da precariedade de condições.
“Eu já imaginava que existiria algum tipo de laboratório na FCS, mas não sabia que eram específicos. Além disso, por ser uma Universidade pública achei que haveria muita dificuldade de equipamento, de maquinário, mas a situação que eu encontrei aqui é muito melhor do que eu esperava”, disse Rafael Nascimento, aluno do 1º período de jornalismo.
Já no 1º período, estudantes de jornalismo e relações públicas têm a oportunidade de desenvolver nos Laboratórios parte do que é aprendido em sala de aula, ou até o que ainda nem foi aprendido.


Um bom exemplo é o aluno Ciro Mahomed (Relações Públicas), que apesar de estar apenas no 2º Período da Faculdade, já estagiou no Laboratório de Vídeo (onde funciona a TV UERJ, primeira TV universitária online do país) e agora é estagiário do Escritório de Relações Públicas (que tem como seu carro-chefe a promoção de eventos para a FCS e também para fora dela).
“É muito bom para os alunos ter laboratórios de fácil acesso, que nos possibilitam adquirir certa bagagem. (...) Primeiro eu estagiei no LV, e o mais legal é que pude aprender bastante sobre jornalismo, que não é a minha habilitação, mas acho que isso pode ajudar bastante no meu futuro em Relações Públicas. Agora estou no ERP, onde eu posso realizar um trabalho mais de RP e ter um maior contato com as atividades que vão fazer parte da minha carreira futuramente”, afirma Ciro.
Apesar da estrutura não ser perfeita e dos problemas do dia-a-dia de uma instituição pública dificultarem bastante, os estagiários do Laboratório de TV e Vídeo (LV), de Editoração Eletrônica (LED), responsável pela produção jornalística impressa e digital da FCS; de Pesquisa e Opinião (LPO), onde realizam pesquisas de mercado e de opinião; e do Escritório de Relações Públicas (ERP), têm a grande chance de entrar em contato com suas futuras profissões já no início de sua vida acadêmica.

Além de representarem uma primeira chance para os estudantes, o estágio nos laboratórios é um diferencial para o currículo, e possibilita a muitos a chance de buscar uma vaga no mercado de trabalho. Como ocorreu com Pedro Staite: estudante de jornalismo, ele entrou no LV logo no 1º período; saiu no 3º. Hoje está no 4º e já tem dois estágios externos no currículo.
“o estágio no laboratório foi importante, porque foi o primeiro contato com a profissão, e por causa da responsabilidade que o LV propõe, pois há certa autonomia para os estudantes dentro do Laboratório. Além disso, ter um estágio de alguns meses no terceiro período é um adianto na hora de conseguir um estágio externo!”, disse Pedro.
Apesar de serem celeiros de bons profissionais os laboratórios ainda precisam de algumas melhorias, é o que diz José Carlos Messias, estudante de jornalismo do 6º período, “... ainda têm muito que melhorar, o espaço físico de laboratórios como o LED ainda é precário, pouco amplo e muitas vezes temos que nos deslocar para outras salas”.



Além disso, o número de bolsas é limitado e mesmo sabendo disso alguns estudantes aceitam estagiar nos laboratórios, devido à importância da experiência. Porém, nem sempre isso é possível, como no caso de Vitor Elias, do 4º período de RP.
- O número de bolsas era muito menor que o de estagiários. Eu fiquei seis meses como voluntário, mas chegou uma hora que o dinheiro me impossibilitou de permanecer, pois os gastos aumentam ficando o dia todo na UERJ. Por isso, seria legal se o número de bolsas fosse ampliado, assim mais alunos poderiam ter oportunidade, declarou o estudante.
Sobre a quantidade de bolsas a direção falou que realmente o número é pequeno, mas que há outras saídas como pedir monitoria ou iniciação científica, que são pouco solicitadas.
Além disso, a respeito do financiamento de melhorias por parte da direção, Ricardo Freitas, vice-diretor da faculdade disse: “A direção tenta ajudar no que pode, no entanto a verba é limitada, e é preciso um certo planejamento no pedido de verbas” (...).”Os professores precisam criar o hábito de fazer projeto para a FAPERJ, Fundo de Apoio de Pesquisa no Estado do Rio de Janeiro, pois quando o projeto é bem feito nós ganhamos o financiamento”.
Para a direção da faculdade os laboratórios são essenciais para a formação dos alunos, além de serem obrigatórios de acordo com lei do ministério da educação, e elevam o nome da FCS.
- Cada produto bacana que sai daqui leva o nome da Faculdade de Comunicação cidade a fora, estado a fora, país a fora. Por exemplo, a Agência de Notícias, do laboratório de Editoração, é um projeto fantástico porque ele coloca o nome da UERJ efetivamente pra fora, finaliza o vice-diretor.
Portanto, para aqueles que entram na Faculdade esperando pelo 3º período, quando a maioria dos estágios externos começam a surgir, os laboratórios da FCS são uma excelente oportunidade de aprendizado e contato com a carreira.
Com um pouco mais de integração entre alunos, professores e direção esses laboratórios podem render muito mais frutos do que já rendem.

UERJ: Uma história de desejos, incertezas, lutas e sucesso

por Adriana Teixeira e Wedis Martins

Quem caminha hoje pela UERJ e se depara com esses blocos de concreto, com esses corredores imensos, com os elevadores antigos, com esse estacionamento cheio de carros e com os mais diferentes tipos de pessoas, muitas vezes desconhece a trajetória pela qual a Instituição passou até ser o que é hoje. São 58 anos de muitas mudanças, várias delas acompanhando as transformações políticas e sociais do país.

Dos jogos políticos à criação da Universidade

Em 1950*, quando a cidade do Rio de Janeiro ainda era o Distrito Federal, o então prefeito, Ângelo Mendes de Moraes promulgou a Lei n° 547, que restabelecia a Universidade do Distrito Federal (UDF) extinta 1939. Exatamente, “restabelecida”, e não criada. Isto porque, entre 1935 e 1939, já havia existido uma UDF. Contudo, Maria Helena de Brito Rodrigues, ex-professora de Hidráulica da Faculdade de Engenharia e atual assessora do Centro de Tecnologia e Ciências, não concorda com o fato de dizerem que a UDF foi restabelecida. “Foi tudo um jogo político. A nova Universidade não tinha nada haver com a antiga. Só foi usado esse termo porque após várias tentativas frustradas de criar uma nova universidade viram que a única solução era dizer que se restabelecia a antiga”, diz.

*Neste mesmo ano o Brasil inteiro chorava a perca da Copa do Mundo de Futebol. Aqui ao lado, em pleno Maracanã, o Uruguai ganhou do Brasil de 2 x 0.

*Neste ano só existiam cerca de dez universidades no país. As que se situavam no RJ eram a UB (hoje UFRJ) de 1920, a PUC de 1946 e a UFRRJ de 1943.

Crescendo e evoluindo

Para constituir a nova UDF, foram reunidas quatro faculdades particulares, a Faculdade de Ciências Jurídicas, a Faculdade de Ciências Médicas, a Faculdade de Ciências Econômicas e a Faculdade de Ciências e Letras. Aos poucos as outras foram chegando. A criação da nova universidade atraiu uma grande quantidade de pessoas, que ao longo dos anos fizeram parte da sua evolução, sendo testemunhas e contribuindo para a incorporação de diferentes instituições à sua estrutura. O Hospital Universitário Pedro Ernesto foi agregado à Universidade em 1961. Em 1975, foi a vez da Escola Superior de Desenho Industrial. Em 1987 a Faculdade de Formação de Professores, em São Gonçalo, passou a fazer parte da Universidade. E em 1992 o Instituto Politécnico foi vinculado à UERJ. Além dessas instituições, foram criadas a Faculdade de Educação da Baixada Fluminense, em 1988, e o Campus Regional de Resende, com o curso de Engenharia de Produção, em 1992.


Fase inicial da construção do Campus. Vista conjunta com o Maracanã. (Catálogo Geral, UEG, 1971).

Em busca de uma identidade

A história da Universidade foi marcada por várias trocas de nomes. Em 1950, a lei nº 547, a “restabeleceu” como UDF. Em 1958, conforme a lei nº 909, ela passou a se chamar Universidade do Rio de janeiro (URJ). Com a transferência da capital da república para Brasília, no começo da década de 60, passou a se chamar Universidade do Estado da Guanabara (UEG). Por fim, de acordo com a lei nº 153 de 1977, Universidade do Estado do Rio de janeiro (UERJ).


Décadas de consolidação

As décadas de 60 e 70 foram muito importantes para a Universidade. Neste período ela passou por mudanças bastante significativas e se consolidou como uma das universidades mais importantes do Brasil. O projeto institucional evolui, seguindo as necessidades dos novos tempos. “Se isto não tivesse ocorrido, o projeto estaria completamente defasado hoje”, explica Maria Helena. Durante a sua permanência na reitoria, de 1960 a 1967, o Reitor Haroldo Lisboa da Cunha visitou várias universidades e centros culturais dos Estados Unidos, Europa e América Latina. Os modelos de educação visto por ele em diferentes países, o influenciaram a implementar mudanças na Universidade, como a criação de diferentes institutos. Neste período, a então UEG, investia pesado na graduação. Este fato colocou as graduações da Universidade entre as melhores do país. Mas acompanhado as novas tendências de ensino e mercado no final da década de 70, só uma boa graduação já não era suficiente. Tornou-se necessário investir em pós-graduação, e a Instituição fez isto.

Moradas do saber

Hoje a UERJ é constituída de mais de 30 faculdades e institutos. Algumas são remanescentes das quatro faculdades fundadoras da Universidade, as outras foram incorporadas ao longo do tempo. A atual Faculdade de Ciências Médicas é a única que permanece com o nome original de 1950. A antiga Faculdade de Ciências Jurídicas passou a ser em 1953 a atual Faculdade de Direito. A Faculdade de Ciências Econômicas virou em 1964 a atual Faculdade de Administração e Finanças. A partir da Faculdade de Ciências e Letras foram criadas em 1954 o Instituto de Física, em 1966 o Instituto de Matemática e Estatística, o Instituto de Química e o Instituto de Geociências (da onde saiu, em 1995, a atual Faculdade de Geologia), e em 1968 a Faculdade de Educação, o Instituto de Filosofia, o Instituto de Letras e o Instituto de Biologia.

A Faculdade de Enfermagem foi inaugurada em 1944, e só em 1971 passou a ter este nome. Já a criação da Faculdade de Engenharia ocorreu em 1961. O início da Faculdade de Serviço Social foi no ano de 1963, e o da Faculdade de Odontologia em 1967. O Instituto de Nutrição teve sua criação em 1984, antes o curso de nutrição era ministrado na Faculdade de Enfermagem. A Faculdade de Comunicação Social foi criada, a partir do Instituto de Psicologia e Comunicação Social, em 1986. Neste mesmo ano surgiu o Instituto de Psicologia.**

**As datas são referentes às criações das faculdades e institutos. Os cursos que são oferecidos por eles hoje chegaram à Universidade, na maioria dos casos, antes da criação da sua faculdade ou instituto.


Biblioteca da Faculdade de Direito (Catálogo Geral, UEG, 1971.)


O sonho da unidade – do Esqueleto, ao gigante de concreto

A Universidade estava crescendo bastante com a criação de várias faculdades e institutos. Surgiu então a necessidade de estabelecer, em definitivo, em um Campus, todas as escolas. Era a oportunidade de garantir a tão sonhada unidade, que existia desde 1950, mas por falta de recursos próprios e outros pormenores sempre foi adiada.

Em 1961 o parágrafo 1º, do artigo 63 da Carta Magna do Estado da Guanabara viria garantir o repasse de, no mínimo, dois e meio por cento da arrecadação tributária estadual para Universidade. Com isto, várias comissões começaram a trabalhar no grande projeto de construção do campus universitário. O primeiro desafio era a escolha do local perfeito. Após vários estudos, chegaram a conclusão de que o Campus seria construído no local que existia a Favela do Esqueleto***. O Plano de Trabalho dizia o seguinte sobre o local, “local de fácil acesso e condução abundante, próxima ao Pedro Ernesto, e serviços públicos periféricos existentes”. Porém, a área pertencia a União, e a relação entre o governador Carlos Lacerda e o governo federal não eram boas. Para conseguir a posse do terreno, o vice-governador, Rafael de Almeida Magalhães, se encarregou de pedir a entrega da área. Pediu e foi prontamente atendido pelo presidente Castelo Branco, que naquele mesmo ano de 1965 a entregou mediante uma única condição, de que fossem mantidas no local unidades de ensino.

Antes de o local ser oficialmente do Estado, Carlos Lacerda já havia expulsado, em apenas dois meses, os moradores da favela, que se transferiram para Vila Kennedy, em Santa Cruz.



***A favela do Esqueleto ocupava uma área de cerca de 94.000m². Surgiu ao redor da estrutura inacabada do que seria um grandioso Hospital-Escola para a UFRJ. Possuía quase trezentos barracos, que formavam uma das áreas mais violentas do Estado.



Favela do Esqueleto



Trecho de uma viela da Favela do Esqueleto, tendo ao fundo o esqueleto. (Acervo do Núcleo de Memória, Informação e Documentação (MID) da UERJ)


Começaram então as obras das unidades do Campus. O Pavilhão Haroldo Lisboa da Cunha (Haroldinho) foi inaugurado em 4 de agosto de 1970. O Pavilhão Reitor João Lyra Filho, com inauguração prevista para 1976, começou a ser ocupado em 1973. Juntamente com o Centro Cultural Oscar Tenório (Concha acústica), Teatro Odylo Costa Filho, Capela Ecumênica e Departamento de alunos, formam o Campus Universitário, que recebeu o nome do governador Francisco Negrão de Lima por causa de sua imensa contribuição no processo de formação do Campus.



Obras de construção do Pavilhão Reitor João Lyra Filho (Catálogo Geral, UEG, 1971)


Os reitores**** dos primeiros tempos da história da UERJ eram pessoas com bastante influência política."Sendo pessoas influentes, eles conseguiam verbas para Universidade com muita facilidade. Mas depois que os reitores passaram a ser pessoas mais importantes no meio acadêmico, em vez de no meio político, ficou mais difícil conseguir as coisas”, diz Maria Helena. A professora considera este fato de a UERJ ter tido grandes nomes na reitoria, como o de Oscar Tenório, ex-presidente do Tribunal de Justiça, algo muito importante para a projeção da Instituição no cenário brasileiro. Além do momento em que a Universidade resolveu investir na pós-graduação e de quando deixou de ser uma Universidade urbana, se expandindo para Friburgo, Resende, etc. Outro fato importante para UERJ, na opinião dela, foi a incorporação do Pedro Ernesto à Universidade, em 1961, e depois a vinculação da Policlínica Pique Carneiro – que é hoje o maior posto de assistência médica da América Latina.

Reitor Haroldo Lisboa da Cunha (ao centro, de terno claro) visita as obras do Campus Universitário Francisco Negrão de Lima, ao lado do vice-reitor João Lyra Filho (à esquerda, de terno escuro), e dos engenheiros. (Acervo do Núcleo de Memória, Informação e Documentação (MID) da UERJ)

****Reitores que cumpriram
mandatos regulares na UERJ até hoje.

1952 – Rolando monteiro
1954 – Antônio dos Santos Jacinto Guedes
1957 – Thomas Rocha Lagoa
1960 – Haroldo Lisboa da Cunha (reeleito em 1963).
1967 – João Lyra Filho¹
1972 – Oscar Tenório
1976 – Caio Tácito Vasconcelos
1980 – Ney Cidade Palmeiro²
1981 – João Salim Miguel
1984 – Charley Fayal de Lyra
1988 – Ivo Barbieri
1992 – Hésio Cordeiro
1996 – Antônio celso
2000 – Nilcéa Freire
2004 – Nival Nunes de almeida
2008 – Ricardo Vieiralves de Castro

¹ Só a parir daí os mandatos passaram a ser de quatro anos.


² Faleceu logo que assumiu o cargo.





Campus Francisco Negrão de Lima: Pavilhão Haroldo Lisboa da Cunha pronto e Pavilhão Reitor João Lyra Filho em construção. (Catálogo Geral, UEG, 1971).


Ecoa pelo tempo

Na atualidade, a percepção da professora é de que a UERJ está ótima. A instituição conseguiu vencer um período enorme em que esteve atrás de outras universidades, e hoje está no nível das melhores. “Quando eu vim dar aula aqui, a qualidade dos alunos era muito ruim. Não se pode dar um bom curso para maus alunos, porque eles irão ser reprovados. A primeira prova que eu dei aqui, teve como maior nota cinco, fiquei apavorada. Os alunos da UERJ estavam atrás dos da UFRJ, da onde eu vim. Depois essa diferença sumiu, hoje em dia não existe mais. Nós conseguimos progredir em pouco tempo e ficar no nível das outras”, diz Maria Helena.

As modificações na estrutura da Universidade continuam até hoje. Existem no momento obras no Campus Francisco Negrão de Lima, para construção de um prédio que abrigará os Institutos de Química e Biologia. A obra tem verba da Petrobrás. Porém, as mudanças e o sucesso obtido pela UERJ não se restringem aos portões da Universidade, alcança toda a sociedade.

Ela está presente na Baixada Fluminense e em São Gonçalo, onde desenvolve projetos ligados à educação. A Faculdade de Tecnologia, no sul fluminense, fornece mão-de-obra especializada para as empresa da região próxima a Resende, colaborando com o crescimento local. Na região serrana, o Instituto Politécnico, desenvolve uma grande quantidade de trabalhos relacionados à tecnologia. E o Ceads (Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável), na Ilha Grande, realiza trabalhos voltados para a preservação do ambiente e desenvolvimento sustentável, contribuindo para o crescimento econômico e o bem-estar da população local.

Efeitos de Uma Greve

Universidade do Estado do Rio de Janeiro sente as conseqüências de uma paralisação marcada por manifestações conturbadas

por Átilas Campos, Hugo Mirandela e Marcos Vinícius do Nascimento

ESCUTE UM PODCAST COM OS DEPOIMENTOS DE ALGUNS ALUNOS SOBRE O ESTADO DA UERJ APÓS A GREVE



Um desafio cotidiano
Problemas na infraestrutura do Campus Maracanã já fazem parte da rotina de alunos, professores e funcionários

Uma comunidade com 23.311 alunos, 1.834 professores e 3.374 funcionários vivendo um período pós-greve e sofrendo com problemas de infraestrutura. Essa é a situação que a Uerj se encontra no início de 2009. A universidade, que é dirigida por pouco mais de um ano pelo reitor Ricardo Vieiralves, ainda não conseguiu espantar esses fantasmas que a aterrorizam há anos.

Em setembro de 2008, mais uma vez uma greve de docentes e funcionários atingiu a Uerj e durou cerca de dois meses. Durante esse período, a reitoria da universidade foi ocupada pelos estudantes, que reivindicavam diversas melhorias, entre elas o repasse de mais verba do Governo do estado do Rio para a instituição. E até o vestibular chegou a ficar ameaçado.

Com uma área construída de 699,100 m² de campi universitários, a Uerj tem muitos problemas de infra-estrutura, que às vezes, além de não acomodar adequadamente as pessoas, ainda colocam estas em perigo.

No principal Campus da Uerj, Francisco Negrão de Lima, problemas de infra-estrutura podem ser vistos em muitos lugares. Em 2007, um incêndio atingiu o Pavilhão João Lyra Filho. E no local, existem goteiras, vazamentos e a fiação elétrica, em alguns pontos, está exposta. Até um pedaço de reboco de uma das passarelas caiu em 2006. Fatores que deixam em perigo a vida da comunidade que utiliza o Campus.

E em todo esse “caos” de estrutura, um ponto se destaca: os banheiros. Em todos os andares, é possível contar nos dedos os sanitários que são limpos, possuem papel, não tem goteiras, forro do teto caindo, enfim, condições adequadas de uso. Os banheiros do Bloco F foram reformados, devido às obras de reconstrução da área atingida pelo incêndio.

A sala de aula, um dos lugares mais importantes da universidade, também não está livre dos problemas estruturais. Em diversas delas, não há iluminação necessária e muito menos ventilação. Os ventiladores não funcionam, e nas que possuem condicionador de ar, pode-se ver que os aparelhos estão desinstalados.

Essas são as complicações que as pessoas enfrentam nas suas atividades na Uerj. As paralisações dessas atividades têm se tornado comum durante os últimos anos. Em 2007 aconteceu o incêndio, em 2008 a greve e no começo de 2009, em janeiro, houve um problema em uma tubulação, que foi perfurada por uma máquina usada na obra do estacionamento, fechando o Campus Negrão de Lima por três dias.

Em meio a todos os problemas, assumiram no início de 2008 o reitor Ricardo Vieiralves, e a vice-reitora Christina Maioli. E logo no primeiro ano do mandato, eles enfrentaram uma greve dos professores e funcionários, além da ocupação da sala da reitoria pelo movimento estudantil da faculdade, que cobrava entre outras coisas, a construção do bandejão universitário e melhorias para os estudantes. Como benefício para os alunos, a atual reitoria conseguiu a extensão da bolsa para os cotistas por todo o período da sua formação na Uerj.


Greve na Universidade
Por reajuste salarial, professores paralisam suas atividades por pouco mais de dois meses.

A Uerj atravessa grave crise entre seus docentes. Convivendo há muito com sérios problemas em sua estrutura, a universidade assiste agora a um processo de evasão no seu quadro de professores. A perda dos profissionais, desestimulada pela falta de investimentos do governo, coloca em risco o futuro do ensino na Uerj. “A nossa preocupação não é só com relação à nossa vida financeira pessoal. O que temos visto é a perda de docentes na universidade para outras instituições e com isso a gente corre o risco de a Uerj diminuir a qualidade de pesquisa, extensão e ensino”, diz Inalda Pimentel, presidente da Associação dos Docentes da Uerj (Asduerj). “A Uerj tem perdido profissionais até para empresas que vem procurar na universidade essa mão de obra qualificada que são os nossos docentes”, continua Inalda.

A categoria dos professores, que permaneceu sete anos sem reajuste salarial, se vê cada vez mais atraída pelas melhores oportunidades de trabalho das universidades federais e privadas. Hoje, um professor recém-integrado à universidade estadual recebe em torno de R$ 2.500,00 (valor já reajustado em dezembro de 2008), enquanto um docente do mesmo nível na UFRJ tem um salário em torno dos R$ 3.000,00.

Esse quadro de desvalorização fez com que os professores dessem início à paralisação de suas atividades no dia 15 de setembro de 2008. Entre as reivindicações estavam a reposição das perdas salariais ao longo dos sete anos sem aumento (defasagem de 66%), o repasse dos 6% da receita tributária líquida do Estado à Uerj (prevista em lei) e a criação do sistema de trabalho em dedicação exclusiva.

Nós, docentes, sabemos como é prejudicial para os alunos, para as atividades na universidade, uma greve. Todo trabalhador consciente sabe que a greve é o último recurso, mas não tivemos opção”, afirma Inalda Pimentel, que esteve à frente de todas as manifestações de greve. Esse período foi marcado por diversos atos públicos de contestação à política do governo do Estado em relação à universidade. Nas manifestações eram cobradas as promessas feitas por Sérgio Cabral, durante sua campanha para governador em 2006. O então candidato chegou inclusive a mencionar a Uerj como “jóia da coroa”. No entanto, após assumir a cadeira de governador, uma das primeiras medidas de Sérgio Cabral foi cortar R$ 35 milhões do orçamento da universidade.

Diante da mobilização grevista, o governador propôs um plano de carreira docente (PCD) para ser aprovado na Assembléia Legislativa do Estado (Alerj). O plano, contudo, estabelecia reajustes diferenciados para os distintos níveis do quadro docente e não fazia menção alguma à dedicação exclusiva.

O movimento docente mobilizou-se, então, no sentido de corrigir as imperfeições do plano enviado à Alerj. Teve início uma jornada de lutas que visavam a inclusão de emendas ao PCD. Os professores cobravam economia na concessão de reajuste, ou seja, o mesmo percentual de aumento para todos os níveis da categoria. Após várias assembléias, a Alerj, decidiu aprovar o plano de carreira docente para a Uerj. Com essa medida, no dia 27 de novembro de 2008, a greve dos docentes foi suspensa e eles voltaram às suas atividades normais no dia 1° de dezembro de 2008.



Uerj após a greve
Alunos e professores sentem a dificuldade de associar tempo com conteúdo

Depois de todo esse período conturbado na universidade, as atividades voltariam ao seu funcionamento normal. Isso, pelo menos, na teoria. Na prática, a história não é bem assim. O período de greve na Uerj representou um atraso de dois meses no calendário acadêmico, fazendo com que, por duas vezes ainda, a universidade paralisasse suas atividades (nas festas de fim de ano e no carnaval), o que faz com que o tempo de aulas seja reduzido.

Os alunos e professores têm ainda que conviver com um problema exclusivo da universidade: o calor que aumenta no Pavilhão João Lyra Filho por conta do verão no Rio de Janeiro. Tendo que estudar em janeiro, os alunos têm que se acostumar com a situação em salas sem ar condicionado em sua maioria e muitas vezes com problemas de falta de água (como o problema já mencionado na tubulação, que provocou a falta de abastecimento de água no Campus Maracanã).

Estudar no que seria o período de férias traz alguns prejuízos a alguns alunos. “A greve foi bastante prejudicial para mim, principalmente porque na outra faculdade eu estou em processo de monografia”, conta Camila Walter, de 21 anos, aluna do 2° período de Relações Públicas na Uerj que está também no último período de História na Unirio. Já para Carmen Silva, de 19 anos, moradora de Nova Friburgo e estudante de Jornalismo, a greve representou uma mudança brusca na sua rotina. “Quando vi que a greve estava ficando longa, resolvi voltar para casa para trabalhar no mês de dezembro, em alguma loja. Fui para lá e na semana seguinte a greve acabou. Perdi dinheiro, voltei para ter aulas e não vi muito lucro”, conta. Para Carmen, as aulas também não foram produtivas nesse período pós-greve. “Fiquei desestimulada. Achei que quando a greve acabasse iríamos ter aula normalmente. Na minha perspectiva foi um período perdido, porque muitos professores continuaram faltando e davam a matéria de qualquer maneira".

O conteúdo do que é passado é o que mais preocupa aos alunos. “O conteúdo é passado com pressa, e fica desalinhado com o calendário, ou seja, fica tudo uma bagunça e desordem.”, conta Diego Lima, aluno do 2° período de Administração. Já para Priscila Catalão, aluna do 4° período de Letras, o ritmo é o que mudou após a greve. “O conteúdo é o mesmo, o ritmo que diferenciou. Todos os professores querem terminar suas respectivas matérias rapidamente. Logo, são várias provas e trabalhos para as mesmas datas, ritmo mais frenético do que nunca. Nós, alunos, pagamos duplamente pela greve”.

Mesmo que tenha sido um período conturbado, alguns professores consideram um período vitorioso: “Por mais que seja ruim para toda a comunidade Uerj, são os direitos de toda uma classe de trabalhadores que foram defendidos durante a greve, e é isso que a maioria não entende.”, diz o professor André Valente, do Instituto de Letras da Uerj.


Um futuro incerto
Uerj se prepara para receber novos alunos em abril. Calendário foi atrasado em dois meses.

2009 se iniciou na Uerj com muitas obras de revitalização do Campus Maracanã. De acordo com o portal oficial da Prefeitura do Campus (www.prefeitura.uerj.br), só no mês de janeiro foram concluídas e/ou iniciadas 14 diferentes obras, incluindo a recuperação da fachada do Pavilhão João Lyra Filho, impermeabilização de cisternas, reformas no laboratório de pós-graduação em odontologia, entre outras. Em fevereiro, duas novas obras foram iniciadas, incluindo uma reforma em um dos prédios que incorporam o Hospital Universitário Pedro Ernesto, que já foi palco de vários acidentes de infraestrutura.

Essas obras de melhoria no campus vêm a mostrar que a universidade está disposta a atender melhor à sua comunidade. No dia 20 de abril de 2009, a Uerj vai receber os aprovados no Vestibular 2009, para início do período letivo de 2009.1. Os novos calouros vão encontrar uma universidade que tenta se reerguer de uma crise mas que se mostra disposta a enfrentar novos desafios e continuar a excelência acadêmica.

Mercado X academicismo

A necessidade de inserção no mercado de trabalho estimula mudanças nas disciplinas do curso de comunicação da Uerj

por Carolina Mulatinho, Layse Ventura, Tamyres Matos e Thaís Montezano

A tecnologia do século XXI avança rapidamente. Neste contexto, os processos comunicacionais tendem a aproveitar suas vantagens ou sofrer com seus possíveis inconvenientes, como uma certa defasagem dos meios utilizados. O jornalismo, por sua necessidade de dinamismo, é frequentemente afetado por estas inovações e os cursos universitários desta área, por sua vez, geralmente, não conseguem acompanhar este ritmo. As constatações desta característica da área, por alunos e professores, trouxeram a preocupação com a discrepância entre a grade de matérias e a realidade do mercado de trabalho. Depois de muita conversa entre o corpo docente, discentes e responsáveis administrativos da Faculdade de Comunicação Social da Uerj (FCS), foi realizada uma proposta – por parte da direção composta pelos professores João Maia (diretor) e Ricardo Freitas (vice-diretor) – no primeiro semestre do ano passado de uma reforma curricular que alinhasse o curso às exigências do “mundo real”.

Após o início das reuniões oficiais – datado do último 13 de novembro, ocorreu uma assembléia pautada na reforma curricular que foi realizada pelo Centro Acadêmico de Comunicação Social da Uerj (Cacos), no último dia 8 de dezembro, para apresentar o projeto aos alunos. A Comissão para a Reforma Curricular é formada pelos professores João Pedro Dias, membro do Departamento de Jornalismo (DJR), Ricardo Freitas, membro do Departamento de Relações Públicas (DRP) e Ronaldo Helal, membro do Departamento de Teoria da Comunicação (DTC), este último Presidente da Comissão. Além da presença do representante do Centro Acadêmico, Fábio Klotz e da pedagoga Sônia Simões, esta encarregada dos detalhes formais do processo. Para acelerar os procedimentos burocráticos, a direção pediu que fosse realizado o encaminhamento de propostas para a reforma, por parte de departamentos – (DJR), (DRP) e (DTC) – até o dia 4 de fevereiro deste ano. Junto com o fim do prazo, ocorreria mais uma reunião entre os membros da Comissão para a Reforma Curricular. Este última foi adiada por conta de um processo de reformulação dos cursos de jornalismo do país que está sendo realizado pelo Ministério da Educação (MEC). O prazo estipulado pelo MEC para a entrega dos parâmetros da reforma é de cerca de três meses.

Frequentemente, as bases da formação acadêmica são questionadas na área da Comunicação. Esta questão gira em torno de um polêmico embate entre teoria e prática; há aqueles que encontram na tradição da produção teórico-científica das universidades a única resposta para a melhor formação dos alunos; e outros acreditam que uma das funções do aprendizado universitário é preparar os estudantes para o mercado de trabalho. Para Ronaldo Helal, o currículo atual ainda poderia ser testado por mais um tempo. “Mesmo com o aumento da quantidade de disciplinas práticas no currículo, nunca uma faculdade vai substituir o mercado de trabalho. A nossa função não é esta. O aluno que vai se tornar um bom profissional é aquele que sabe pensar, sabe conversar sobre a mídia e sobre os assuntos que estão em pauta. Não existe faculdade que, sozinha, faça isso pelo aluno. É essencial o aprendizado prático – externo ao ambiente da universidade - em jornalismo ou em RP, assim como o médico para se formar tem que passar pela residência”. O professor do DJR e designer gráfico do jornal Extra, Ary Moraes pensa de modo diferente: “Esta maneira como o currículo é pensado e como ele foi trabalhado até o momento contempla um contexto do jornalismo que está ficando para trás, está defasado. O surgimento de novas tecnologias estimula o surgimento de novas práticas e neste sentido o currículo ainda não está adaptado”, opina. Ary lembra que o mercado de jornalismo é abrangente e se modifica a todo o momento. “Temos, por exemplo, o twiter, que é importante. São comunidades digitais com um limite de caracteres por texto para escrever e partilhar. Um bom exemplo – da utilização deste mecanismo – é o caso da visita de Barack Obama e John McCain, ainda em campanha, à Universidade de Columbia. O encontro deles com os estudantes não foi divulgado pela mídia convencional, acabou acontecendo via twiter. Quem tinha acesso a esse sistema teve um aproveitamento da cobertura diferente de quem estava ligado na mídia convencional”, ressalta.

Segundo Ricardo Freitas, as reclamações mais veementes sempre foram dos professores do Departamento de Jornalismo da Faculdade. “O diretor João Maia e eu víamos que alguns membros do DJR demonstravam uma insatisfação muito grande com o currículo. Assim como os alunos de jornalismo, mas foram os docentes que apontaram isto com certa insistência, já no início da nossa gestão em 2007”, explicou Ricardo, complementando: “Na verdade, a última reforma não tem muito tempo (2004) e os Departamentos de Teoria da Comunicação e de Relações Públicas não estão insatisfeitos com o atual currículo”. Para o vice-diretor, é necessário que os três setores da FCS se unam para que não haja excesso de divergências, conseguindo o equilíbrio entre o que os professores e os alunos querem e, acima de tudo, entre teoria e prática.

O representante do Centro Acadêmico, Fábio Klotz, buscou exemplificar as reclamações dos alunos em relação ao currículo atual: “Muitos dos estudantes da FCS fazem estágios externos e reclamam da falta de um suporte no que diz respeito às questões práticas. Eles afirmam encontrar muitas dificuldades no exercício de algumas de suas funções. As disciplinas das quais eles sentem falta são, no caso dos alunos de relações públicas, alguma de tratamento com o público, de marketing e de visão empresarial como um todo. No caso dos estudantes de jornalismo faltam disciplinas de produção de rádio, por exemplo, que no momento está parado por falta de material. Além de uma parte para aprimorar a redação, entre outras coisas”.

Além de alterações significativas no currículo, são citadas algumas alternativas possíveis: um aprimoramento dos laboratórios da FCS, dos quais alguns como o Laboratório de Editoração Eletrônica (LED), o Laboratório de TV e Vídeo (LTV) e o Escritório de Relações Públicas (ERP), oferecem estágios internos, e a implantação de um sistema de créditos com um número maior de eletivas. “Era necessário que tivesse um núcleo teórico básico, mas que se um aluno quisesse experiência com algo diferente e mais específico fossem abertas as possibilidades”, acredita Helal. O professor da FCS e fotógrafo, Ricardo de Hollanda lembra ainda os benefícios de laboratórios equipados: “Eu acho que os alunos de universidades públicas têm algumas carências em relação aos de universidades privadas, pois estas últimas têm uma velocidade diferenciada. Refiro-me aos aparatos técnicos sofisticados e atualizados, utilizados pelas particulares para atrair os alunos. Já as públicas ficam sempre a mercê de uma verba pública e por conta disto há uma morosidade. Sem dúvida nenhuma os laboratórios são muito necessários, pois têm a função da prática. O conhecimento teórico tem de ser permeado por esta prática”, conclui.
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No Poço do Elevador

Os elevadores da UERJ estão em boas condições de uso?

Por Eduardo Bianchi, Jéssica Baptista e Leticia Rocha

Nossa equipe foi à procura desta e de outras respostas. Para tanto, conversamos com ascensoristas e buscamos o parecer da empresa responsável pela manutenção.

A Universidade conta com 10 elevadores no hall principal, que atendem aos passageiros, e um de carga situado no corredor do bloco F.
Ao serem abordados pelos repórteres, três funcionários da empresa Construir, terceirizada que presta serviços à Universidade, não quiseram falar. Os que aceitaram pediram para que não divulgássemos seus nomes.
– Isso aqui não tem manutenção. Só vão parar para fazer quando morrer um e vier a Defesa Civil – afirmou Márcio (nome fictício) que trabalha há oito anos como ascensorista. Segundo ele, os funcionários da empresa responsável pela manutenção dos elevadores apenas substituem peças antigas por outras.
– Repor peça não é consertar – disse ele, que avalia como deveria ser feito o reparo – Durante as férias uma parte (dos elevadores) deveria ficar parada para que a outra fosse consertada.

Já houve pelo menos um caso de queda de elevador de carga, segundo outro funcionário que também pediu para não ser identificado. Paulo (nome fictício) trabalha na UERJ há 12 anos e relatou que estava dentro do elevador quando este caiu no poço da altura do térreo. Não houve feridos na ocasião, mas o funcionário afirma que os problemas persistem – na semana em que foi feita a reportagem (02/02/09) ele estava trabalhando nos elevadores do hall, pois os de carga estavam com água no poço. Os elevadores de carga têm fios aparentes na instalação elétrica, não possuem grade no pequeno ventilador central, além de aparentarem evidente desgaste em seu interior.
Na sexta-feira, dia 06/02, havia um elevador do hall funcionando como de carga, o que levanta sérias questões com relação à segurança, já que o modelo é destinado ao transporte de passageiros.
– Às vezes a gente tem que fechar a porta na mão, porque ela não vai sozinha. Isso quando não abre na parede, vai até o poço... E ainda tem este “degrau”, que as pessoas vão sair e tropeçam – contou o Paulo, que também reclamou de não ter como desligar o elevador em caso de emergência e da falta de um telefone dentro da cabine para se comunicar no caso de ficar preso.

Os botões localizados nos andares para chamar os elevadores são outro motivo de reclamação – tanto nos de carga quanto nos do hall principal. Os seis ascensoristas entrevistados jamais os viram funcionar – Isso só funcionou na inauguração! – Brincou um deles quando perguntado sobre a questão. Todos que concordaram em conversar conosco já haviam ficado presos pelo menos uma vez, mas alguns entrevistados afirmaram que se sentem seguros em seu local de trabalho – A UERJ tem nome, não arriscaria a vida dos outros. Um acidente aqui teria repercussão internacional – exagerou Carla (nome fictício), uma das funcionárias que afirmava insistentemente não ter medo, nem se preocupar com a manutenção. – Acidentes acontecem também nos elevadores novos. O rapaz do conserto não sai daqui, só não sei como é feito – afirmou ela.

Os seis afirmaram que nunca souberam de feridos por acidentes em elevadores, mesmo com as diversas ocorrências citadas.
– Esse rasgo na porta do que pára no 9º e no 11º foi de uma vez que o elevador caiu e tiveram que puxar para abrir a porta – nos contou Paulo que também tocou num ponto frequentemente citado como causa de insegurança: a quantidade de passageiros. – Aqui não cabem 23 pessoas, não, as mochilas atrapalham – explica ao ser perguntado sobre o limite escrito na placa do elevador.
Márcio afirmou que já impediu pessoas de entrarem no elevador lotado para evitar o excesso de peso – Mas aí eles ficam zangados comigo, acham que é implicância. Estão atrasados, querendo ir pra aula, e não preocupados com isso naquela hora – conta ele, que põe em dúvida o limite da empresa – Como vou saber o peso das pessoas?

Resposta da Excel Elevadores

Procurada por nossa equipe durante mais de uma semana, a Excel Elevadores conversou conosco por meio de seu gerente comercial, Renato Veiga, que afirmou – A vistoria é feita mensalmente, mas há um mecânico residente que fica na UERJ em horário comercial. Ele é responsável pela manutenção preventiva, do dia a dia, que consiste em verificar, lubrificar peças e fazer ajustes no óleo, nos cabos e na parte elétrica. Há também a manutenção corretiva, que é a troca de lâmpadas, bobinas e rolamentos. Mas em caso de emergência a empresa pode ser contatada por telefone.
Veiga acrescentou que a Universidade é cliente da empresa desde 2004 e que durante este período desconhece que tenha acontecido qualquer acidente.
– Os cabos dos elevadores não foram trocados porque o equipamento é antigo e bom, bastante durável. Os critérios para esta troca são fornecidos pelo município, mas em caso de fissuras no cabo o serviço é feito em no máximo três meses.
Quanto aos registros da manutenção o gerente afirmou tê-los arquivados, mas alegou que teria de procurá-los. Por fim não tivemos acesso aos comprovantes.

Testemunho da repórter-estudante
Por Leticia Rocha



Como aluna que frequenta a Universidade todos os dias há dois anos, uso constantemente os elevadores e posso comentar sobre alguns problemas e dificuldades enfrentados.

Já presenciei elevadores não pararem nos andares marcados, subirem ou descerem direto, as portas abrirem com um “degrau” entre o elevador e o andar, os ventiladores que ficam no teto não funcionarem ou estarem sem a grade de proteção– o que pode causar um acidente em uma pessoa alta – além dos botões no hall que não funcionam.

Quando permaneço até as 22h na UERJ tenho de ficar aos gritos no hall, esperando que o ascensorista ouça “DEZ” e venha ao andar em que me encontro. Isso sem falar na quantidade de pessoas que se espreme dentro dos elevadores nos horários de pico de movimento, como às 18h e às 22h. Não há espaço para se mexer e, com o ventilador não funcionando, até mesmo respirar é complicado.
Quanto à manutenção, presenciei apenas uma manhã o funcionário da firma encarregada trabalhando dentro do elevador no qual estava pendurada uma placa. Isso, sim, vejo com bastante frequência: elevadores parados e com as placas amarelas de “em manutenção”.


Transportando pessoas

O elevador está presente na vida das pessoas há muito tempo. Desde 1500 a.C. os egípcios já o utilizavam para o transporte de cargas, movido a tração animal, a força humana ou até a água.
Mas o transporte de pessoas só teve início em 1853 quando Elisha Graves Otis inventou o primeiro elevador de segurança, no qual freios eram acionados se o cabo de sustentação partisse. Agora capaz de transportar passageiros, ainda era muito lento e movido a vapor.

No Brasil, a fabricação de elevadores começou no ano de 1918. O modelo nacional ou “cabineiro” era movido à manivela com as portas abertas e fechadas manualmente. Para chamar o elevador era necessário gritar ou gesticular – o que só foi modificado com os elevadores movidos a eletricidade, que podem ser chamados por um botão.
Os circuitos elétricos também diminuíram as viagens inúteis e o atendimento aos andares passou a ser mais rápido e eficaz – para satisfação e alívio dos usuários. A segurança também foi melhorada, pois os componentes estão mais resistentes e menos defeituosos, além de econômicos e de fácil manutenção.





















Patente de Elisha Otis - Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Elisha_Graves_Otis

Você Sabia...

O primeiro elevador elétrico do Brasil foi instalado no Palácio das Laranjeiras em 1906 e funciona até hoje mantendo suas características originais.


Crédito da Foto: Eduardo Bianchi

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O Presidente não lê - Por Roberto DaMatta

Numa terra de cegos, quem tem um olho é rei. Num país de gente sedenta e carente de leitura, é desanimador e melancólico descobrir que o presidente da República, o sujeito mais importante e poderoso do sistema; a figura a quem devemos respeito e lealdade pelo cargo que ocupa; que representa não só um partido ou posição política e econômica, mas - como supremo magistrado da nação - todos nós; o homem numero 1 do país não lê. Mais: em entrevista ao jornalista Mário Sérgio Conti, para a revista "Piauí", ele declara que, quando tenta fazê-lo, tem azia. Ademais, descobrimos que ele fez como o pior presidente que os americanos jamais tiveram, George W. Bush, pois dele veio a cópia de uma estrutura palaciana montada para evitar a leitura. Para um sujeito como eu, que vive para os livros e de livros, e que morreria sem livros; para quem a leitura tem sido um meio de dar sentido à vida e de lidar com o amor, com a perda, com o sucesso, com a raiva, o trabalho e com a morte, saber dessa antipatia à leitura é - digo-o sinceramente e com o coração na mão - chocante, inacreditável, triste, devastador.Para quem tem na leitura não só uma fonte de informação e sabedoria, mas os motivos para viver, como é o caso dos professores, escritores, educadores, ensaístas, legisladores, pensadores e jornalistas; funcionários e intérpretes das normas legais, cujo trabalho consiste em aplicar regulamentos, decidindo a todo instante o que é correto, descobrir que o presidente não lê é uma bofetada na cara!Vejam bem, há contradições triviais. O padre pecador, o ateu crédulo, o professor ignorante, o médico hipocondríaco, o economista pobre, o pastor malandro, o jornalista venal, o desembargador corrupto, o policial criminoso e o político sem caráter. Mas todos leem! Todos se informam por meio de amigos e auxiliares, mas não abandonam o contato direto com a fonte: esse foco indispensável ao conhecimento do mundo. Esse mundo feito de representações codificadas, de palavras e algarismos articulados numa determinada intenção e estrutura. Estivesse eu dizendo o que digo por meio de rimas, o efeito seria diferente. É por causa disso que eu não posso me conformar com um presidente que não lê.O que saiu na revista deve ser um engano. Estou seguro que o presidente lê. Lula estava simplesmente brincando com o entrevistador. Ressentido ou ofendido com alguns jornais e revistas, o presidente usou o manto da ironia e resolveu chocar o estabelecimento jornalístico, dizendo que não lê. Não posso acreditar que o servidor público mais importante do meu país, apreenda o mundo apenas por meio do ouvido. Sendo instruído e informado sobre os eventos e ideias deste nosso mundo conturbado somente por meio de conversas permeadas pelo ponto de vista e emoções dos seus interlocutores. Não posso crer que o presidente se contente em apenas ouvir o canto do galo, sem jamais vê-lo em pessoa. Que ele não tenha nenhum momento a sós consigo mesmo, no qual - com um texto na frente dos olhos - coloque para dentro de seu ser, por meio da leitura solitária e individualizadora, aquilo que o autor da narrativa explicita, revela, ensina, critica, pede, descobre, interpreta, anuncia, reitera, louva, interroga, suspeita, ou condena.Quando o presidente diz que não lê, ele envia uma poderosa mensagem à sociedade que o elegeu. No fundo, ele diz que o discernimento pode ser alcançado por vias externas. Os laços sociais substituem a experiência da leitura que usualmente vai dos jornais e revistas para os livros. O que impressiona não é apenas o fato de o homem não ler. É o fato de ele estar seguro de que é mesmo possível saber das coisas por tabela e em segunda mão, por meio de olhos alheios. Sem a visão direta, interiorizada, individualizada e subjetiva dos fatos e problemas porque eles podem ser assimilados através dos outros. E que ele não leva a sério a imprensa livre e contraditória que, como ele mesmo admite, foi decisiva na sua eleição.A leitura vai muito além da informação. Ela mostra que os fatos são sempre inventados, relativos e determinados por perspectivas. Um mesmo "fato" pode produzir pontos de vista diversos, relativos a um mesmo dilema ou questão. Num mundo permeado por contradições, a leitura é um instrumento privilegiado para entendê-las e eventualmente superá-las.Em estado de choque, penso na lição daquele Machado de Assis que - diga-se logo - não pode deixar de ser lido, quando ensinou que quem conta um conto aumenta (e necessariamente subtrai) um ponto. As versões pessoais, a apreensão marcante, sempre surgem da leitura em primeira mão. Como um sujeito que morreria sem os livros, como uma pessoa cuja profissão é ensinar a ler e que vive de leitores, eu sou obrigado a imaginar que essa entrevista é, no mínimo, um conto; e, no máximo, uma catastrófica notícia.