segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

No Poço do Elevador

Os elevadores da UERJ estão em boas condições de uso?

Por Eduardo Bianchi, Jéssica Baptista e Leticia Rocha

Nossa equipe foi à procura desta e de outras respostas. Para tanto, conversamos com ascensoristas e buscamos o parecer da empresa responsável pela manutenção.

A Universidade conta com 10 elevadores no hall principal, que atendem aos passageiros, e um de carga situado no corredor do bloco F.
Ao serem abordados pelos repórteres, três funcionários da empresa Construir, terceirizada que presta serviços à Universidade, não quiseram falar. Os que aceitaram pediram para que não divulgássemos seus nomes.
– Isso aqui não tem manutenção. Só vão parar para fazer quando morrer um e vier a Defesa Civil – afirmou Márcio (nome fictício) que trabalha há oito anos como ascensorista. Segundo ele, os funcionários da empresa responsável pela manutenção dos elevadores apenas substituem peças antigas por outras.
– Repor peça não é consertar – disse ele, que avalia como deveria ser feito o reparo – Durante as férias uma parte (dos elevadores) deveria ficar parada para que a outra fosse consertada.

Já houve pelo menos um caso de queda de elevador de carga, segundo outro funcionário que também pediu para não ser identificado. Paulo (nome fictício) trabalha na UERJ há 12 anos e relatou que estava dentro do elevador quando este caiu no poço da altura do térreo. Não houve feridos na ocasião, mas o funcionário afirma que os problemas persistem – na semana em que foi feita a reportagem (02/02/09) ele estava trabalhando nos elevadores do hall, pois os de carga estavam com água no poço. Os elevadores de carga têm fios aparentes na instalação elétrica, não possuem grade no pequeno ventilador central, além de aparentarem evidente desgaste em seu interior.
Na sexta-feira, dia 06/02, havia um elevador do hall funcionando como de carga, o que levanta sérias questões com relação à segurança, já que o modelo é destinado ao transporte de passageiros.
– Às vezes a gente tem que fechar a porta na mão, porque ela não vai sozinha. Isso quando não abre na parede, vai até o poço... E ainda tem este “degrau”, que as pessoas vão sair e tropeçam – contou o Paulo, que também reclamou de não ter como desligar o elevador em caso de emergência e da falta de um telefone dentro da cabine para se comunicar no caso de ficar preso.

Os botões localizados nos andares para chamar os elevadores são outro motivo de reclamação – tanto nos de carga quanto nos do hall principal. Os seis ascensoristas entrevistados jamais os viram funcionar – Isso só funcionou na inauguração! – Brincou um deles quando perguntado sobre a questão. Todos que concordaram em conversar conosco já haviam ficado presos pelo menos uma vez, mas alguns entrevistados afirmaram que se sentem seguros em seu local de trabalho – A UERJ tem nome, não arriscaria a vida dos outros. Um acidente aqui teria repercussão internacional – exagerou Carla (nome fictício), uma das funcionárias que afirmava insistentemente não ter medo, nem se preocupar com a manutenção. – Acidentes acontecem também nos elevadores novos. O rapaz do conserto não sai daqui, só não sei como é feito – afirmou ela.

Os seis afirmaram que nunca souberam de feridos por acidentes em elevadores, mesmo com as diversas ocorrências citadas.
– Esse rasgo na porta do que pára no 9º e no 11º foi de uma vez que o elevador caiu e tiveram que puxar para abrir a porta – nos contou Paulo que também tocou num ponto frequentemente citado como causa de insegurança: a quantidade de passageiros. – Aqui não cabem 23 pessoas, não, as mochilas atrapalham – explica ao ser perguntado sobre o limite escrito na placa do elevador.
Márcio afirmou que já impediu pessoas de entrarem no elevador lotado para evitar o excesso de peso – Mas aí eles ficam zangados comigo, acham que é implicância. Estão atrasados, querendo ir pra aula, e não preocupados com isso naquela hora – conta ele, que põe em dúvida o limite da empresa – Como vou saber o peso das pessoas?

Resposta da Excel Elevadores

Procurada por nossa equipe durante mais de uma semana, a Excel Elevadores conversou conosco por meio de seu gerente comercial, Renato Veiga, que afirmou – A vistoria é feita mensalmente, mas há um mecânico residente que fica na UERJ em horário comercial. Ele é responsável pela manutenção preventiva, do dia a dia, que consiste em verificar, lubrificar peças e fazer ajustes no óleo, nos cabos e na parte elétrica. Há também a manutenção corretiva, que é a troca de lâmpadas, bobinas e rolamentos. Mas em caso de emergência a empresa pode ser contatada por telefone.
Veiga acrescentou que a Universidade é cliente da empresa desde 2004 e que durante este período desconhece que tenha acontecido qualquer acidente.
– Os cabos dos elevadores não foram trocados porque o equipamento é antigo e bom, bastante durável. Os critérios para esta troca são fornecidos pelo município, mas em caso de fissuras no cabo o serviço é feito em no máximo três meses.
Quanto aos registros da manutenção o gerente afirmou tê-los arquivados, mas alegou que teria de procurá-los. Por fim não tivemos acesso aos comprovantes.

Testemunho da repórter-estudante
Por Leticia Rocha



Como aluna que frequenta a Universidade todos os dias há dois anos, uso constantemente os elevadores e posso comentar sobre alguns problemas e dificuldades enfrentados.

Já presenciei elevadores não pararem nos andares marcados, subirem ou descerem direto, as portas abrirem com um “degrau” entre o elevador e o andar, os ventiladores que ficam no teto não funcionarem ou estarem sem a grade de proteção– o que pode causar um acidente em uma pessoa alta – além dos botões no hall que não funcionam.

Quando permaneço até as 22h na UERJ tenho de ficar aos gritos no hall, esperando que o ascensorista ouça “DEZ” e venha ao andar em que me encontro. Isso sem falar na quantidade de pessoas que se espreme dentro dos elevadores nos horários de pico de movimento, como às 18h e às 22h. Não há espaço para se mexer e, com o ventilador não funcionando, até mesmo respirar é complicado.
Quanto à manutenção, presenciei apenas uma manhã o funcionário da firma encarregada trabalhando dentro do elevador no qual estava pendurada uma placa. Isso, sim, vejo com bastante frequência: elevadores parados e com as placas amarelas de “em manutenção”.


Transportando pessoas

O elevador está presente na vida das pessoas há muito tempo. Desde 1500 a.C. os egípcios já o utilizavam para o transporte de cargas, movido a tração animal, a força humana ou até a água.
Mas o transporte de pessoas só teve início em 1853 quando Elisha Graves Otis inventou o primeiro elevador de segurança, no qual freios eram acionados se o cabo de sustentação partisse. Agora capaz de transportar passageiros, ainda era muito lento e movido a vapor.

No Brasil, a fabricação de elevadores começou no ano de 1918. O modelo nacional ou “cabineiro” era movido à manivela com as portas abertas e fechadas manualmente. Para chamar o elevador era necessário gritar ou gesticular – o que só foi modificado com os elevadores movidos a eletricidade, que podem ser chamados por um botão.
Os circuitos elétricos também diminuíram as viagens inúteis e o atendimento aos andares passou a ser mais rápido e eficaz – para satisfação e alívio dos usuários. A segurança também foi melhorada, pois os componentes estão mais resistentes e menos defeituosos, além de econômicos e de fácil manutenção.





















Patente de Elisha Otis - Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Elisha_Graves_Otis

Você Sabia...

O primeiro elevador elétrico do Brasil foi instalado no Palácio das Laranjeiras em 1906 e funciona até hoje mantendo suas características originais.


Crédito da Foto: Eduardo Bianchi