Dos jogos políticos à criação da Universidade
Em 1950*, quando a cidade do Rio de Janeiro ainda era o Distrito Federal, o então prefeito, Ângelo Mendes de Moraes promulgou a Lei n° 547, que restabelecia a Universidade do Distrito Federal (UDF) extinta 1939. Exatamente, “restabelecida”, e não criada. Isto porque, entre 1935 e 1939, já havia existido uma UDF. Contudo, Maria Helena de Brito Rodrigues, ex-professora de Hidráulica da Faculdade de Engenharia e atual assessora do Centro de Tecnologia e Ciências, não concorda com o fato de dizerem que a UDF foi restabelecida. “Foi tudo um jogo político. A nova Universidade não tinha nada haver com a antiga. Só foi usado esse termo porque após várias tentativas frustradas de criar uma nova universidade viram que a única solução era dizer que se restabelecia a antiga”, diz.
*Neste ano só existiam cerca de dez universidades no país. As que se situavam no RJ eram a UB (hoje UFRJ) de 1920, a PUC de 1946 e a UFRRJ de 1943.
Para constituir a nova UDF, foram reunidas quatro faculdades particulares, a Faculdade de Ciências Jurídicas, a Faculdade de Ciências Médicas, a Faculdade de Ciências Econômicas e a Faculdade de Ciências e Letras. Aos poucos as outras foram chegando. A criação da nova universidade atraiu uma grande quantidade de pessoas, que ao longo dos anos fizeram parte da sua evolução, sendo testemunhas e contribuindo para a incorporação de diferentes instituições à sua estrutura. O Hospital Universitário Pedro Ernesto foi agregado à Universidade em 1961. Em 1975, foi a vez da Escola Superior de Desenho Industrial. Em 1987 a Faculdade de Formação de Professores, em São Gonçalo, passou a fazer parte da Universidade. E em 1992 o Instituto Politécnico foi vinculado à UERJ. Além dessas instituições, foram criadas a Faculdade de Educação da Baixada Fluminense, em 1988, e o Campus Regional de Resende, com o curso de Engenharia de Produção, em 1992.

A história da Universidade foi marcada por várias trocas de nomes. Em 1950, a lei nº 547, a “restabeleceu” como UDF. Em 1958, conforme a lei nº 909, ela passou a se chamar Universidade do Rio de janeiro (URJ). Com a transferência da capital da república para Brasília, no começo da década de 60, passou a se chamar Universidade do Estado da Guanabara (UEG). Por fim, de acordo com a lei nº 153 de 1977, Universidade do Estado do Rio de janeiro (UERJ).
Décadas de consolidação
As décadas de 60 e 70 foram muito importantes para a Universidade. Neste período ela passou por mudanças bastante significativas e se consolidou como uma das universidades mais importantes do Brasil. O projeto institucional evolui, seguindo as necessidades dos novos tempos. “Se isto não tivesse ocorrido, o projeto estaria completamente defasado hoje”, explica Maria Helena. Durante a sua permanência na reitoria, de 1960 a 1967, o Reitor Haroldo Lisboa da Cunha visitou várias universidades e centros culturais dos Estados Unidos, Europa e América Latina. Os modelos de educação visto por ele em diferentes países, o influenciaram a implementar mudanças na Universidade, como a criação de diferentes institutos. Neste período, a então UEG, investia pesado na graduação. Este fato colocou as graduações da Universidade entre as melhores do país. Mas acompanhado as novas tendências de ensino e mercado no final da década de 70, só uma boa graduação já não era suficiente. Tornou-se necessário investir em pós-graduação, e a Instituição fez isto.
Moradas do saber
Hoje a UERJ é constituída de mais de 30 faculdades e institutos. Algumas são remanescentes das quatro faculdades fundadoras da Universidade, as outras foram incorporadas ao longo do tempo. A atual Faculdade de Ciências Médicas é a única que permanece com o nome original de 1950. A antiga Faculdade de Ciências Jurídicas passou a ser em 1953 a atual Faculdade de Direito. A Faculdade de Ciências Econômicas virou em 1964 a atual Faculdade de Administração e Finanças. A partir da Faculdade de Ciências e Letras foram criadas em 1954 o Instituto de Física, em 1966 o Instituto de Matemática e Estatística, o Instituto de Química e o Instituto de Geociências (da onde saiu, em 1995, a atual Faculdade de Geologia), e em 1968 a Faculdade de Educação, o Instituto de Filosofia, o Instituto de Letras e o Instituto de Biologia.
A Faculdade de Enfermagem foi inaugurada em 1944, e só em 1971 passou a ter este nome. Já a criação da Faculdade de Engenharia ocorreu em 1961. O início da Faculdade de Serviço Social foi no ano de 1963, e o da Faculdade de Odontologia em 1967. O Instituto de Nutrição teve sua criação em 1984, antes o curso de nutrição era ministrado na Faculdade de Enfermagem. A Faculdade de Comunicação Social foi criada, a partir do Instituto de Psicologia e Comunicação Social, em 1986. Neste mesmo ano surgiu o Instituto de Psicologia.**

O sonho da unidade – do Esqueleto, ao gigante de concreto
A Universidade estava crescendo bastante com a criação de várias faculdades e institutos. Surgiu então a necessidade de estabelecer, em definitivo, em um Campus, todas as escolas. Era a oportunidade de garantir a tão sonhada unidade, que existia desde 1950, mas por falta de recursos próprios e outros pormenores sempre foi adiada.
Em 1961 o parágrafo 1º, do artigo 63 da Carta Magna do Estado da Guanabara viria garantir o repasse de, no mínimo, dois e meio por cento da arrecadação tributária estadual para Universidade. Com isto, várias comissões começaram a trabalhar no grande projeto de construção do campus universitário. O primeiro desafio era a escolha do local perfeito. Após vários estudos, chegaram a conclusão de que o Campus seria construído no local que existia a Favela do Esqueleto***. O Plano de Trabalho dizia o seguinte sobre o local, “local de fácil acesso e condução abundante, próxima ao Pedro Ernesto, e serviços públicos periféricos existentes”. Porém, a área pertencia a União, e a relação entre o governador Carlos Lacerda e o governo federal não eram boas. Para conseguir a posse do terreno, o vice-governador, Rafael de Almeida Magalhães, se encarregou de pedir a entrega da área. Pediu e foi prontamente atendido pelo presidente Castelo Branco, que naquele mesmo ano de 1965 a entregou mediante uma única condição, de que fossem mantidas no local unidades de ensino.
Antes de o local ser oficialmente do Estado, Carlos Lacerda já havia expulsado, em apenas dois meses, os moradores da favela, que se transferiram para Vila Kennedy, em Santa Cruz.
***A favela do Esqueleto ocupava uma área de cerca de 94.000m². Surgiu ao redor da estrutura inacabada do que seria um grandioso Hospital-Escola para a UFRJ. Possuía quase trezentos barracos, que formavam uma das áreas mais violentas do Estado.


Começaram então as obras das unidades do Campus. O Pavilhão Haroldo Lisboa da Cunha (Haroldinho) foi inaugurado em 4 de agosto de 1970. O Pavilhão Reitor João Lyra Filho, com inauguração prevista para 1976, começou a ser ocupado em 1973. Juntamente com o Centro Cultural Oscar Tenório (Concha acústica), Teatro Odylo Costa Filho, Capela Ecumênica e Departamento de alunos, formam o Campus Universitário, que recebeu o nome do governador Francisco Negrão de Lima por causa de sua imensa contribuição no processo de formação do Campus.

Obras de construção do Pavilhão Reitor João Lyra Filho (Catálogo Geral, UEG, 1971)
Os reitores**** dos primeiros tempos da história da UERJ eram pessoas com bastante influência política."Sendo pessoas influentes, eles conseguiam verbas para Universidade com muita facilidade. Mas depois que os reitores passaram a ser pessoas mais importantes no meio acadêmico, em vez de no meio político, ficou mais difícil conseguir as coisas”, diz Maria Helena. A professora considera este fato de a UERJ ter tido grandes nomes na reitoria, como o de Oscar Tenório, ex-presidente do Tribunal de Justiça, algo muito importante para a projeção da Instituição no cenário brasileiro. Além do momento em que a Universidade resolveu investir na pós-graduação e de quando deixou de ser uma Universidade urbana, se expandindo para Friburgo, Resende, etc. Outro fato importante para UERJ, na opinião dela, foi a incorporação do Pedro Ernesto à Universidade, em 1961, e depois a vinculação da Policlínica Pique Carneiro – que é hoje o maior posto de assistência médica da América Latina.

****Reitores que cumpriram
mandatos regulares na UERJ até hoje.
1952 – Rolando monteiro
1954 – Antônio dos Santos Jacinto Guedes
1957 – Thomas Rocha Lagoa
1960 – Haroldo Lisboa da Cunha (reeleito em 1963).
1967 – João Lyra Filho¹
1972 – Oscar Tenório
1976 – Caio Tácito Vasconcelos
1980 – Ney Cidade Palmeiro²
1981 – João Salim Miguel
1984 – Charley Fayal de Lyra
1988 – Ivo Barbieri
1992 – Hésio Cordeiro
1996 – Antônio celso
2000 – Nilcéa Freire
2004 – Nival Nunes de almeida
2008 – Ricardo Vieiralves de Castro
¹ Só a parir daí os mandatos passaram a ser de quatro anos.
² Faleceu logo que assumiu o cargo.
Campus Francisco Negrão de Lima: Pavilhão Haroldo Lisboa da Cunha pronto e Pavilhão Reitor João Lyra Filho em construção. (Catálogo Geral, UEG, 1971).
Ecoa pelo tempo
Na atualidade, a percepção da professora é de que a UERJ está ótima. A instituição conseguiu vencer um período enorme em que esteve atrás de outras universidades, e hoje está no nível das melhores. “Quando eu vim dar aula aqui, a qualidade dos alunos era muito ruim. Não se pode dar um bom curso para maus alunos, porque eles irão ser reprovados. A primeira prova que eu dei aqui, teve como maior nota cinco, fiquei apavorada. Os alunos da UERJ estavam atrás dos da UFRJ, da onde eu vim. Depois essa diferença sumiu, hoje em dia não existe mais. Nós conseguimos progredir em pouco tempo e ficar no nível das outras”, diz Maria Helena.
As modificações na estrutura da Universidade continuam até hoje. Existem no momento obras no Campus Francisco Negrão de Lima, para construção de um prédio que abrigará os Institutos de Química e Biologia. A obra tem verba da Petrobrás. Porém, as mudanças e o sucesso obtido pela UERJ não se restringem aos portões da Universidade, alcança toda a sociedade.
Ela está presente na Baixada Fluminense e em São Gonçalo, onde desenvolve projetos ligados à educação. A Faculdade de Tecnologia, no sul fluminense, fornece mão-de-obra especializada para as empresa da região próxima a Resende, colaborando com o crescimento local. Na região serrana, o Instituto Politécnico, desenvolve uma grande quantidade de trabalhos relacionados à tecnologia. E o Ceads (Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável), na Ilha Grande, realiza trabalhos voltados para a preservação do ambiente e desenvolvimento sustentável, contribuindo para o crescimento econômico e o bem-estar da população local.
Nenhum comentário:
Postar um comentário