segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Mercado X academicismo

A necessidade de inserção no mercado de trabalho estimula mudanças nas disciplinas do curso de comunicação da Uerj

por Carolina Mulatinho, Layse Ventura, Tamyres Matos e Thaís Montezano

A tecnologia do século XXI avança rapidamente. Neste contexto, os processos comunicacionais tendem a aproveitar suas vantagens ou sofrer com seus possíveis inconvenientes, como uma certa defasagem dos meios utilizados. O jornalismo, por sua necessidade de dinamismo, é frequentemente afetado por estas inovações e os cursos universitários desta área, por sua vez, geralmente, não conseguem acompanhar este ritmo. As constatações desta característica da área, por alunos e professores, trouxeram a preocupação com a discrepância entre a grade de matérias e a realidade do mercado de trabalho. Depois de muita conversa entre o corpo docente, discentes e responsáveis administrativos da Faculdade de Comunicação Social da Uerj (FCS), foi realizada uma proposta – por parte da direção composta pelos professores João Maia (diretor) e Ricardo Freitas (vice-diretor) – no primeiro semestre do ano passado de uma reforma curricular que alinhasse o curso às exigências do “mundo real”.

Após o início das reuniões oficiais – datado do último 13 de novembro, ocorreu uma assembléia pautada na reforma curricular que foi realizada pelo Centro Acadêmico de Comunicação Social da Uerj (Cacos), no último dia 8 de dezembro, para apresentar o projeto aos alunos. A Comissão para a Reforma Curricular é formada pelos professores João Pedro Dias, membro do Departamento de Jornalismo (DJR), Ricardo Freitas, membro do Departamento de Relações Públicas (DRP) e Ronaldo Helal, membro do Departamento de Teoria da Comunicação (DTC), este último Presidente da Comissão. Além da presença do representante do Centro Acadêmico, Fábio Klotz e da pedagoga Sônia Simões, esta encarregada dos detalhes formais do processo. Para acelerar os procedimentos burocráticos, a direção pediu que fosse realizado o encaminhamento de propostas para a reforma, por parte de departamentos – (DJR), (DRP) e (DTC) – até o dia 4 de fevereiro deste ano. Junto com o fim do prazo, ocorreria mais uma reunião entre os membros da Comissão para a Reforma Curricular. Este última foi adiada por conta de um processo de reformulação dos cursos de jornalismo do país que está sendo realizado pelo Ministério da Educação (MEC). O prazo estipulado pelo MEC para a entrega dos parâmetros da reforma é de cerca de três meses.

Frequentemente, as bases da formação acadêmica são questionadas na área da Comunicação. Esta questão gira em torno de um polêmico embate entre teoria e prática; há aqueles que encontram na tradição da produção teórico-científica das universidades a única resposta para a melhor formação dos alunos; e outros acreditam que uma das funções do aprendizado universitário é preparar os estudantes para o mercado de trabalho. Para Ronaldo Helal, o currículo atual ainda poderia ser testado por mais um tempo. “Mesmo com o aumento da quantidade de disciplinas práticas no currículo, nunca uma faculdade vai substituir o mercado de trabalho. A nossa função não é esta. O aluno que vai se tornar um bom profissional é aquele que sabe pensar, sabe conversar sobre a mídia e sobre os assuntos que estão em pauta. Não existe faculdade que, sozinha, faça isso pelo aluno. É essencial o aprendizado prático – externo ao ambiente da universidade - em jornalismo ou em RP, assim como o médico para se formar tem que passar pela residência”. O professor do DJR e designer gráfico do jornal Extra, Ary Moraes pensa de modo diferente: “Esta maneira como o currículo é pensado e como ele foi trabalhado até o momento contempla um contexto do jornalismo que está ficando para trás, está defasado. O surgimento de novas tecnologias estimula o surgimento de novas práticas e neste sentido o currículo ainda não está adaptado”, opina. Ary lembra que o mercado de jornalismo é abrangente e se modifica a todo o momento. “Temos, por exemplo, o twiter, que é importante. São comunidades digitais com um limite de caracteres por texto para escrever e partilhar. Um bom exemplo – da utilização deste mecanismo – é o caso da visita de Barack Obama e John McCain, ainda em campanha, à Universidade de Columbia. O encontro deles com os estudantes não foi divulgado pela mídia convencional, acabou acontecendo via twiter. Quem tinha acesso a esse sistema teve um aproveitamento da cobertura diferente de quem estava ligado na mídia convencional”, ressalta.

Segundo Ricardo Freitas, as reclamações mais veementes sempre foram dos professores do Departamento de Jornalismo da Faculdade. “O diretor João Maia e eu víamos que alguns membros do DJR demonstravam uma insatisfação muito grande com o currículo. Assim como os alunos de jornalismo, mas foram os docentes que apontaram isto com certa insistência, já no início da nossa gestão em 2007”, explicou Ricardo, complementando: “Na verdade, a última reforma não tem muito tempo (2004) e os Departamentos de Teoria da Comunicação e de Relações Públicas não estão insatisfeitos com o atual currículo”. Para o vice-diretor, é necessário que os três setores da FCS se unam para que não haja excesso de divergências, conseguindo o equilíbrio entre o que os professores e os alunos querem e, acima de tudo, entre teoria e prática.

O representante do Centro Acadêmico, Fábio Klotz, buscou exemplificar as reclamações dos alunos em relação ao currículo atual: “Muitos dos estudantes da FCS fazem estágios externos e reclamam da falta de um suporte no que diz respeito às questões práticas. Eles afirmam encontrar muitas dificuldades no exercício de algumas de suas funções. As disciplinas das quais eles sentem falta são, no caso dos alunos de relações públicas, alguma de tratamento com o público, de marketing e de visão empresarial como um todo. No caso dos estudantes de jornalismo faltam disciplinas de produção de rádio, por exemplo, que no momento está parado por falta de material. Além de uma parte para aprimorar a redação, entre outras coisas”.

Além de alterações significativas no currículo, são citadas algumas alternativas possíveis: um aprimoramento dos laboratórios da FCS, dos quais alguns como o Laboratório de Editoração Eletrônica (LED), o Laboratório de TV e Vídeo (LTV) e o Escritório de Relações Públicas (ERP), oferecem estágios internos, e a implantação de um sistema de créditos com um número maior de eletivas. “Era necessário que tivesse um núcleo teórico básico, mas que se um aluno quisesse experiência com algo diferente e mais específico fossem abertas as possibilidades”, acredita Helal. O professor da FCS e fotógrafo, Ricardo de Hollanda lembra ainda os benefícios de laboratórios equipados: “Eu acho que os alunos de universidades públicas têm algumas carências em relação aos de universidades privadas, pois estas últimas têm uma velocidade diferenciada. Refiro-me aos aparatos técnicos sofisticados e atualizados, utilizados pelas particulares para atrair os alunos. Já as públicas ficam sempre a mercê de uma verba pública e por conta disto há uma morosidade. Sem dúvida nenhuma os laboratórios são muito necessários, pois têm a função da prática. O conhecimento teórico tem de ser permeado por esta prática”, conclui.
Clique aqui e veja mais:


Nenhum comentário: