por Átilas Campos, Hugo Mirandela e Marcos Vinícius do Nascimento
ESCUTE UM PODCAST COM OS DEPOIMENTOS DE ALGUNS ALUNOS SOBRE O ESTADO DA UERJ APÓS A GREVE
Um desafio cotidiano
Problemas na infraestrutura do Campus Maracanã já fazem parte da rotina de alunos, professores e funcionários

Em setembro de 2008, mais uma vez uma greve de docentes e funcionários atingiu a Uerj e durou cerca de dois meses. Durante esse período, a reitoria da universidade foi ocupada pelos estudantes, que reivindicavam diversas melhorias, entre elas o repasse de mais verba do Governo do estado do Rio para a instituição. E até o vestibular chegou a ficar ameaçado.
Com uma área construída de 699,100 m² de campi universitários, a Uerj tem muitos problemas de infra-estrutura, que às vezes, além de não acomodar adequadamente as pessoas, ainda colocam estas em perigo.
No principal Campus da Uerj, Francisco Negrão de Lima, problemas de infra-estrutura podem ser vistos em muitos lugares. Em 2007, um incêndio atingiu o Pavilhão João Lyra Filho. E no local, existem goteiras, vazamentos e a fiação elétrica, em alguns pontos, está exposta. Até um pedaço de reboco de uma das passarelas caiu em 2006. Fatores que deixam em perigo a vida da comunidade que utiliza o Campus.
E em todo esse “caos” de estrutura, um ponto se destaca: os banheiros. Em todos os andares, é possível contar nos dedos os sanitários que são limpos, possuem papel, não tem goteiras, forro do teto caindo, enfim, condições adequadas de uso. Os banheiros do Bloco F foram reformados, devido às obras de reconstrução da área atingida pelo incêndio.
A sala de aula, um dos lugares mais importantes da universidade, também não está livre dos problemas estruturais. Em diversas delas, não há iluminação necessária e muito menos ventilação. Os ventiladores não funcionam, e nas que possuem condicionador de ar, pode-se ver que os aparelhos estão desinstalados.
Essas são as complicações que as pessoas enfrentam nas suas atividades na Uerj. As paralisações dessas atividades têm se tornado comum durante os últimos anos. Em 2007 aconteceu o incêndio, em 2008 a greve e no começo de 2009, em janeiro, houve um problema em uma tubulação, que foi perfurada por uma máquina usada na obra do estacionamento, fechando o Campus Negrão de Lima por três dias.
Em meio a todos os problemas, assumiram no início de 2008 o reitor Ricardo Vieiralves, e a vice-reitora Christina Maioli. E logo no primeiro ano do mandato, eles enfrentaram uma greve dos professores e funcionários, além da ocupação da sala da reitoria pelo movimento estudantil da faculdade, que cobrava entre outras coisas, a construção do bandejão universitário e melhorias para os estudantes. Como benefício para os alunos, a atual reitoria conseguiu a extensão da bolsa para os cotistas por todo o período da sua formação na Uerj.
Greve na Universidade
Por reajuste salarial, professores paralisam suas atividades por pouco mais de dois meses.

A categoria dos professores, que permaneceu sete anos sem reajuste salarial, se vê cada vez mais atraída pelas melhores oportunidades de trabalho das universidades federais e privadas. Hoje, um professor recém-integrado à universidade estadual recebe em torno de R$ 2.500,00 (valor já reajustado em dezembro de 2008), enquanto um docente do mesmo nível na UFRJ tem um salário em torno dos R$ 3.000,00.
Esse quadro de desvalorização fez com que os professores dessem início à paralisação de suas atividades no dia 15 de setembro de 2008. Entre as reivindicações estavam a reposição das perdas salariais ao longo dos sete anos sem aumento (defasagem de 66%), o repasse dos 6% da receita tributária líquida do Estado à Uerj (prevista em lei) e a criação do sistema de trabalho em dedicação exclusiva.

Diante da mobilização grevista, o governador propôs um plano de carreira docente (PCD) para ser aprovado na Assembléia Legislativa do Estado (Alerj). O plano, contudo, estabelecia reajustes diferenciados para os distintos níveis do quadro docente e não fazia menção alguma à dedicação exclusiva.
O movimento docente mobilizou-se, então, no sentido de corrigir as imperfeições do plano enviado à Alerj. Teve início uma jornada de lutas que visavam a inclusão de emendas ao PCD. Os professores cobravam economia na concessão de reajuste, ou seja, o mesmo percentual de aumento para todos os níveis da categoria. Após várias assembléias, a Alerj, decidiu aprovar o plano de carreira docente para a Uerj. Com essa medida, no dia 27 de novembro de 2008, a greve dos docentes foi suspensa e eles voltaram às suas atividades normais no dia 1° de dezembro de 2008.
Uerj após a greve
Alunos e professores sentem a dificuldade de associar tempo com conteúdo
Depois de todo esse período conturbado na universidade, as atividades voltariam ao seu funcionamento normal. Isso, pelo menos, na teoria. Na prática, a história não é bem assim. O período de greve na Uerj representou um atraso de dois meses no calendário acadêmico, fazendo com que, por duas vezes ainda, a universidade paralisasse suas atividades (nas festas de fim de ano e no carnaval), o que faz com que o tempo de aulas seja reduzido.

Estudar no que seria o período de férias traz alguns prejuízos a alguns alunos. “A greve foi bastante prejudicial para mim, principalmente porque na outra faculdade eu estou em processo de monografia”, conta Camila Walter, de 21 anos, aluna do 2° período de Relações Públicas na Uerj que está também no último período de História na Unirio. Já para Carmen Silva, de 19 anos, moradora de Nova Friburgo e estudante de Jornalismo, a greve representou uma mudança brusca na sua rotina. “Quando vi que a greve estava ficando longa, resolvi voltar para casa para trabalhar no mês de dezembro, em alguma loja. Fui para lá e na semana seguinte a greve acabou. Perdi dinheiro, voltei para ter aulas e não vi muito lucro”, conta. Para Carmen, as aulas também não foram produtivas nesse período pós-greve. “Fiquei desestimulada. Achei que quando a greve acabasse iríamos ter aula normalmente. Na minha perspectiva foi um período perdido, porque muitos professores continuaram faltando e davam a matéria de qualquer maneira".
O conteúdo do que é passado é o que mais preocupa aos alunos. “O conteúdo é passado com pressa, e fica desalinhado com o calendário, ou seja, fica tudo uma bagunça e desordem.”, conta Diego Lima, aluno do 2° período de Administração. Já para Priscila Catalão, aluna do 4° período de Letras, o ritmo é o que mudou após a greve. “O conteúdo é o mesmo, o ritmo que diferenciou. Todos os professores querem terminar suas respectivas matérias rapidamente. Logo, são várias provas e trabalhos para as mesmas datas, ritmo mais frenético do que nunca. Nós, alunos, pagamos duplamente pela greve”.
Mesmo que tenha sido um período conturbado, alguns professores consideram um período vitorioso: “Por mais que seja ruim para toda a comunidade Uerj, são os direitos de toda uma classe de trabalhadores que foram defendidos durante a greve, e é isso que a maioria não entende.”, diz o professor André Valente, do Instituto de Letras da Uerj.
Um futuro incerto
Uerj se prepara para receber novos alunos em abril. Calendário foi atrasado em dois meses.

Essas obras de melhoria no campus vêm a mostrar que a universidade está disposta a atender melhor à sua comunidade. No dia 20 de abril de 2009, a Uerj vai receber os aprovados no Vestibular 2009, para início do período letivo de 2009.1. Os novos calouros vão encontrar uma universidade que tenta se reerguer de uma crise mas que se mostra disposta a enfrentar novos desafios e continuar a excelência acadêmica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário